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Fracasso no combate à pandemia: a culpa é de Bolsonaro, confirma estudo

Coronavírus
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Pesquisa realizada pela FGV e universidade norte-americana elenca ações negativas do presidente que contribuem para aumentar o caos e o total de mortos por covid-19

O que muitos suspeitavam e outros já denunciam há tempos acaba de ser confirmado em estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e da Fundação Getúlio Vargas (FGV): o Brasil tinha os mecanismos necessários para lidar de maneira exemplar com a pandemia de covid-19, mas as escolhas do presidente da República Jair Bolsonaro transformaram o combate à doença em um fracasso mundial. Nesta quinta, 22 de abril são mais de 381 mil mortos, sendo 6.465 no Grande ABC.
O estudo está sendo divulgado hoje e também foi transformado em livro. Ele reúne análises de cerca de 60 pesquisadores sobre as políticas públicas de controle da pandemia adotadas por 30 países de todos os continentes. Os resultados mostram que aqueles que tiveram desempenho melhor durante o período analisado seguiram as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e aliaram medidas de saúde a políticas sociais.
Os autores ressaltam que o Brasil era classificado como o país da América Latina mais preparado para lidar com emergências de saúde pública, segundo o sistema Global Health Security Index. Também contava com um sistema de vigilância em saúde bem desenvolvido e tinha bom histórico com epidemia que respondeu às emergências da Aids, da hepatite C e da influenza (H1N1). “Não podemos voltar no tempo e rever a história, mas, se o presidente tivesse escolhido outros caminhos, o Brasil poderia ter apresentado um desempenho muito melhor. Poderíamos ser um exemplo”, aponta Elize Massard, professora da FGV e uma das autoras do estudo.
A pesquisa mostra a forma com que Bolsonaro usou todos os poderes constitucionais para fazer valer a sua agenda, minimizar a pandemia e boicotar ações de estados. Alguns destaques:
- O presidente iniciou, em abril do ano passado, uma "campanha agressiva" em apoio ao uso da cloroquina, ineficaz para a covid-19 (e que pode até deixar efeitos colaterais, segundo relatos mais recentes). Sua posição acabou derrubando dois ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, e colocando o general Eduardo Pazuello no cargo. E Pazuello trocou técnicos por militares em cargos gerenciais importantes no Ministério da Saúde.
- Demorou a fechar fronteiras terrestres e aéreas, que estão sob a jurisdição federal
- Editou medidas provisórias para atrapalhar as ações de governadores, como a que incluiu dezenas de serviços na lista de essenciais - de igrejas a salões de beleza -, numa clara tentativa de impedir o fechamento de atividades, ação importante para garantir o isolamento social e diminuir a disseminação do vírus.
- Bolsonaro defendeu políticas de saúde que refletem a "pseudociência" e o "negacionismo" e contribuiu para a desinformação sobre a pandemia. Ele decidiu ignorar as orientações da OMS e as políticas de saúde baseadas em evidência temendo que isso pudesse gerar consequências econômicas negativas, diz a pesquisa.
- Relutou em liberar o auxílio emergencial. A pesquisa destaca que essa foi a política social mais importante durante a pandemia, garantindo a sobrevivência de muitos cidadãos durante o período disponibilizado. Por outro lado, o Ministério da Economia atrasou o início do programa e que houve uma disputa na Câmara dos Deputados para que o valor fosse fixado em R$ 600 - o governo federal queria somente R$ 200.

"Bolsonaro interferiu no Ministério da Saúde como nunca no período democrático. Ele interveio em protocolos de tratamento e até no modo de divulgação dos dados da pandemia”, lembra a pesquisadora.
O estudo conclui, por fim, que Bolsonaro fez de tudo para negar o conhecimento científico e atrapalhar o combate à pandemia. O estrago causado pelo coronavírus no Brasil só não foi maior, segundo a pesquisa, porque o País tem uma infraestrutura de vigilância sanitária bem desenvolvida para lidar com pandemias. A rede de atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS) também foi apontada como essencial para mitigar o impacto da covid-19. Outro fator destacado foi a atuação dos Estados e prefeituras, que ajudou a controlar o caos no País. Segundo o estudo os governadores lideraram a resposta do Brasil à pandemia e ganharam popularidade porque seguiram as orientações da ciência, o que parece ter “enfurecido” o presidente e seus apoiadores.

Doenças mentais – Embora as mortes e efeitos colaterais da covid-19 sejam o fato mais dramático da pandemia, após mais de um ano dos primeiros casos de contaminação pelo novo coronavírus agravam-se os quadros relacionados às doenças mentais.

No Grande ABC pelo menos três cidades já registraram aumento nas demandas por consultas relacionadas a saúde mental. Antes da pandemia, São Caetano, Ribeirão Pires e Mauá realizaram, juntas, 19.157 atendimentos (de janeiro a março de 2019). Dois anos depois, segundo levantamento da imprensa regional, o número passou para 25.718 no mesmo período, um aumento de 34,2%.

“Vivemos tempos difíceis em todo o mundo com a pandemia, mas podemos dizer que no Brasil esse quadro é muito pior. Temos um presidente que não se importa com o povo e nem faz questão de disfarçar. Ele é, sim, o responsável por essa quantidade absurda de mortes, sequelas, doenças resultantes da pandemia. Não há coordenação entre os ministérios nem com os Estados, e ainda se divulgam informações mentirosas. É criminoso o que ele está fazendo”, destaca o diretor sindical Otoni Lima.