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59 anos do golpe civil-militar: que jamais se repita!

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Democracia brasileira precisa ser celebrada e valorizada a cada dia

Ditaduranuncamais3103O golpe civil-militar completa 59 anos, e seus efeitos ainda trazem impacto para a sociedade brasileira. Depois de um presidente da República que exaltou a tortura e os torturadores nos últimos anos, o mesmo Bolsonaro que ignorou vítimas da covid-19, o Brasil volta a resgatar esse triste período da história com programação de debates, estudos e atividades que denunciam as atrocidades do regime militar e alertam para a importância de que jamais se repita.

A ditadura civil-militar já resultou em estudos das comissões da verdade, num balanço de 434 mortos e/ou desaparecidos pelo País. No entanto, o número de vítimas pode ser muito maior, pois há muitas frentes que precisam ser destrinchadas, tais como as mortes de indígenas ou os sequestros de bebês. Os historiadores destacam que, como não houve punição por conta da anistia, a página não chegou a ser virada, e muitas narrativas confundem os que não se aprofundam na história recente brasileira.

Assim, não é incomum que alguns digam que na ditadura tinha mais segurança ou menos corrupção, quando é justamente o oposto, mas não se podia denunciar ou averiguar, porque a censura era intensa sobre os veículos de comunicação - sem contar que alguns deles de fato até colaboravam com o regime militar. Muitas empresas patrocinaram e se beneficiaram desse período sombrio, que teve o patrocínio direto dos Estados Unidos. Além disso, havia a propaganda ufanista de país “que vai pra frente” e que classificava de “terroristas” e “bandidos” os que lutavam contra a ditadura.

ABC de luta - A região do Grande ABC, com seus sindicatos, trabalhadores e religiosos, teve forte participação nas lutas contra a ditadura. A repressão na região começou imediatamente após o golpe. Um registro do Jornal de Santo André, de 4 de abril de 1964, relata a invasão policial à sede do combativo Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, com a prisão dos diretores Marcos Andreotti e Philadelpho Braz.

É a partir de 1968, porém, com o Ato Institucional 5 (AI-5), que a repressão se torna mais pesada, com vigilância em todos os locais. A Volkswagen, por exemplo, que publicamente reconheceu seu apoio ao golpe em 2017, mas nunca aceitou reparação, contava com “especialistas de segurança” recrutados na polícia e nas Forças Armadas: segundo o então metalúrgico Lúcio Belentani, ex-militante do PCB e funcionário da empresa, que foi torturado no Deops, sua prisão aconteceu dentro da fábrica de São Bernardo, e ali mesmo ele começou a apanhar.

Além dos trabalhadores, o Grande ABC também teve uma militância ativa em outros setores. Na igreja, os chamados ´padres operários´ estavam presentes em bairros como de Santa Terezinha e Vila Palmares, além do próprio bispo de Santo André, Dom Jorge Marcos de Oliveira. Dom Jorge foi um dos sete bispos brasileiros que assinaram em Roma um manifesto que proclamou a opção preferencial da igreja católica pelos pobres, origem da Teologia da Liberação.

Uma das vítimas da ditadura na região foi a professora de teatro e dramaturga Heleny Guariba, militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Em 1968 ela fundou um grupo teatral em Santo André que chegou a produzir peças de Moliére e Brecht. Em 1971 foi detida no Rio de Janeiro e desapareceu. As apurações revelaram que Heleny foi levada para Petrópolis, na chamada Casa da Morte, que foi torturada durante três meses, e, por fim, executada.

No caso específico dos bancários do ABC, o primeiro presidente da entidade, Lincoln Grillo, também chegou a ser detido pela ditadura. À época, ele já havia abraçado a vida política. “Fui preso em 1969, na época do Garrastazu Médici, fiquei na delegacia perto da antiga estação rodoviária, no Deops. Saí logo, (a acusação) era a militância. Era fichado de comuna, e nunca pertenci ao partido (comunista), fui vereador pelo PSB”, contou, nas comemorações dos 50 anos do Sindicato, em 2009.

A intensa mobilização dos sindicatos, antes do golpe, também permitiu à região uma forte retomada para colocar fim aos chamados anos de chumbo. Ainda que de forma clandestina, muitas foram as formas de comunicação e organização inovadoras que surgiram no Grande ABC. Elas ganharam luz e se tornaram vanguarda com as grandes greves ocorridas no final dos anos 1970, muitas delas sob liderança do então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, Luiz Inácio Lula da Silva, acelerando o clamor por um País democrático.

“Nossa democracia é preciosa, muitos perderam suas vidas durante a ditadura ou foram torturados. Precisamos de liberdade e direitos, de ter voz para reivindicar e conquistar. Ditadura nunca mais!”, destaca o secretário de Comunicação do Sindicato, Belmiro Moreira.

Para saber mais

? Ditadura: apoio ao golpe de 1964 beneficiou grandes empresários
http://bit.ly/3K2UGrC

? Historiadores explicam disputa de narrativas sobre ditadura militar
http://bit.ly/3lYT9uE

? Ditadura militar contribuiu para genocídio dos povos indígenas
http://bit.ly/3zkALiX

? Passado Presente – Semana Ditadura e Democracia: TV Brasil tem programação especial para lembrar os 59 anos do golpe militar de 1964 https://tvbrasil.ebc.com.br/passado-presente

? Comissão de Anistia planeja revisar mais de 4 mil pedidos negados http://bit.ly/3K08J1l

Dicas de filmes:
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/16-filmes-essenciais-para-entender-o-que-foi-a-ditadura-no-brasil/

 

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