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Bancos cortaram cerca de 56 mil postos de trabalho desde 2012

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Além de frear desenvolvimento econômico devido às altas taxas de juros cobradas, grandes bancos colaboram com avanço do desemprego no país, mesmo registrando lucros bilionários

Com taxas de juros que "enforcam" a economia real e colaboram para a estagnação do crescimento, os grandes bancos que atuam no Brasil também têm contribuído com a elevação do desemprego.

Desde 2012, o setor, que registra sucessivos lucros bilionários, cortou cerca de 56 mil postos de trabalho no país. A reportagem é da Rede Brasil Atual.

O maior movimento de fechamento de vagas se deu nos últimos três anos, com cerca de 50 mil cortes. No ano passado, Bradesco, Itaú, Santander e Banco do Brasil – as quatro maiores instituições com ações listadas na Bolsa – somaram R$ 57,63 bilhões em lucros.

Em 2016, esse número foi de R$ 50,2 bilhões e, em 2015, alcançaram a cifra de R$ 61,9 bilhões, de acordo com a consultoria Economatica.

Já o fechamento de vagas – diferença entre demitidos e contratados – foi de 17.905, em 2017, depois de ter alcançado 20.553 no ano anterior.

Mesmo em 2015, quando os lucros foram recordes, 9.886 postos de trabalho foram extintos.

Em dezembro do ano passado, os dispensados ganhavam em média R$ 7.456. Já a média salarial dos contratados foi de R$ 4.139, o que representa apenas 56% da remuneração dos desligados.

Neste ano, a tendência continua. Nos primeiros três meses deste ano, foram 2.226 vagas extintas, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.

De janeiro a março, apenas os três maiores bancos privados – Itaú Unibanco, Santander e Bradesco – registraram lucro líquido de R$ 14,3 bilhões.

Reestruturação que corrói empregos - Segundo o economista do Dieese Gustavo Cavarzan, trata-se de uma "reestruturação produtiva" por meio da qual o setor pretende maximizar resultados reduzindo estruturas.

Mas nem sempre foi assim.

De 2003 a 2011, os bancos conciliavam a ampliação dos negócios com o crescimento do número de agências e de funcionários.

Desde 2012 a terceirização e a substituição tecnológica, tendências verificadas desde os anos 1990, são intensificadas.

Além da terceirização (transferência de serviços para empresas prestadoras de serviços, ainda que de natureza bancária), os bancos se utilizam dos chamados "correspondentes bancários" – quando outros estabelecimentos comerciais, lotéricas e agências dos Correios, por exemplo, passam a oferecer serviços financeiros, em substituição a agências de bancos.

"Esses estabelecimentos fazem contratos com os bancos para prestar determinados serviços, só que os trabalhadores não são bancários, não têm os direitos previstos em convenção coletiva da categoria, têm salários muito menores, entre outros fatores. Assim, os bancos conseguem expandir suas atividades sem contratar, ou até mesmo demitindo", explica Cavarzan.

Outro processo ainda mais decisivo é a intensificação da tecnologia no setor.

Estudo divulgado pela própria Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informa que 35% de todas as operações bancárias hoje são realizadas por meio de smartphones.

Só em 2017 os grandes bancos investiram R$ 19,5 bilhões em desenvolvimento tecnológico.

Apesar dos custos infinitamente mais baixos dessas transações, as tarifas bancárias não caem, ao contrário, continuam subindo.

O técnico do Dieese destaca que, segundo relatório do Bradesco, o custo das operações virtuais é de cerca de 3% do que seria se elas fossem realizadas numa agência.

Ainda assim, as tarifas tiveram reajuste de cerca de 9%, segundo o Dieese, frente a uma inflação oficial de 2,95%, no ano passado.

"A gente não vê esse movimento, que está no discurso dos bancos – de que os clientes seriam beneficiados com a redução de custos –, sendo reproduzido na prática. As tarifas seguem aumentando muito acima da inflação geral. Essa redução de custos está sendo totalmente apropriada pelas empresas", ressalta Gustavo.

Para os sindicatos bancários os avanços tecnológicos são importantes, mas não podem ficar a serviço apenas dos banqueiros.

O uso das novas tecnologias pode aumentar a exclusão de parcela mais pobre da população, além daqueles que vivem em áreas afastadas, fora dos espaços urbanos, e que não contam com fácil acesso à internet.

Além disso, ao invés de um compartilhamento dos ganhos tecnológicos, parte das inovações serve para tornar mais precárias as relações de trabalho no sistema financeiro.

A categoria conquistou no ano passado, durante negociação salarial, cláusula que garante a requalificação e realocação de trabalhadores atingidos pelo avanço tecnológico, e agora é preciso reivindicar que seja mantida no próximo acordo.

Arte: Fetec-SP

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